Famílias ainda vivem dentro de antigas senzalas para preservar raízes em Quissamã, no RJ
Quilombolas da fazenda Machadinha, em Quissamã, no Norte Fluminense, vivem até hoje dentro de antigas senzalas. São 80 famílias descendentes de escravos que fazem questão de preservar o estilo de vida dos negros escravizados que viveram na localidade. Muitas dessas famílias já estão na oitava geração.
Ao todo, são 300 famílias que vivem no chamado Complexo da Machadinha. São 983 quilombolas. Todos carregam no sangue os tempos de escravidão. A estrutura que existe no local foi erguida com mãos negras.
"Sou tataraneto de escravos. A mãe da minha bisavó foi ama de leite da família que vivia na casa grande. Meus tios eram escravos e viviam aqui", contou Dalma dos Santos.
Já as senzalas passaram por reformas. O piso, por exemplo, antes de chão batido, agora possui cerâmica na cor vermelha. As janelas, portas e vigas continuam de madeira. O telhado de barro é o mesmo feito pelas escravas da época
Na senzala de número sete, vive a família do Gilson Inácio da Silva, de 77 anos. Questionado se deseja sair do local, o quilombola responde que não.
"Daqui só saio para o cemitério. Aqui está o meu passado e não vou sair. Não posso abandonar nada daqui", disse.
Os quilombolas também uniram forças para resgatar e preservar os pratos típicos. O antigo barracão da casa grande foi transformado em um restaurante. Mesas e cadeiras de madeira, os lustres artesanais de bambu e o fogão a lenha são convites aos turistas.
Todo domingo tem música ao vivo para atrair os visitantes para o almoço na localidade. A comida é de responsabilidade das primas Maria José de Azevedo. As duas têm o mesmo nome e sobrenome.
Ambas são quilombolas e fazem questão de preparar os pratos típicos. "Temos o bolinho 'Capitão de Feijão', a 'Sopa de Leite' e o 'Falso Bolo'. São alguns dos sabores da nossa gente", disse uma das Marias.
"Também servimos pratos mais tradicionais como a feijoada e escondidinho", completou a outra Maria.
Logo na entrada da antiga fazenda Machadinha é possível avistar a ala "A" das senzalas. Bem em frente das moradias existem duas árvores enormes que oferecem sombra. Um convite para dançar o jongo, de origem africana.
É no chão de terra batida que o círculo é formado. Os passos ganham ritmo com tambores e cantoria. As roupas são leves e de cor branca. Todos preferem ficar descalços. As frases da música são um resgate das lutas dos escravos.
Desde pequenos as crianças são ensinadas a dançar. Os mais velhos são responsáveis em puxar as letras.
"Na minha época era só um homem ou uma mulher que dançava no meio da roda.
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